segunda-feira, agosto 20, 2007

Do faz de conta...


Então neste mundo de faz de conta,

estava 30º e depois 15º,

assim, em poucas horas.


E neste mundo de faz de conta

o mais interesse são os tipos:


"Por favor, me ame"

"Por favor, me adore"

"Eu sou demais, não sou?"

"Por favor, me aceite em seu grupo/em sua tribo/em sua roda"

"Por favor, eu sou bacana"


Tudo faz de conta.


Pra se ser amado.

Pra se ser adorado.

Pra se ser demais.

Pra se ser aceito.

Pra se ser bacana.


E quem explicaria isso?


Talvez Clarice...

Vamos ver:


Faz de conta que ela era uma princesa azul pelo crepúsculo que viria

faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos

faz de conta que uma veia não se abrira e

faz de conta que sangue escarlate não estava em silêncio branco escorrendo

e que ela não estivesse pálida de morte,

estava pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade,

precisava no meio do faz-de-conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz-de-conta verde cintilante de olhos que vêem,

faz de conta que ela amava e era amada,

faz de conta que não precisava morrer de saudade,

faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus,

faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte,

faz de conta que ela não ficava de braços caídos quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio,

faz de conta que era sábia bastante para desfazer os nós de marinheiros que lhe atavam os pulsos,

faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua,

faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos da gratidão mais límpida,

faz de conta que tudo o que tinha não era de faz-de-conta,

faz de conta que se descontraíra o peito e a luz dourada a guiava pela floresta de açudes e tranqüilidade,

faz de conta que ela não era lunar,

faz de conta que ela não estava chorando.


Lispector explicou.


Inspira.

Solta.


Odeio falsas alegrias.


Odeio faz de conta.


Então, vou ao teatro.


terça-feira, agosto 14, 2007

Do Calendário...




Do Gaspar...