Dos registros fotográficos...

"OLHARES CRUZADOS"

"Cristiano Mascaro vê Berlim, Sibylle Bergemann vê São Paulo"

Apresenta 40 fotografias da capital alemã, realizadas pelo fotógrafo paulistano Cristiano Mascaro, e outras 40 de São Paulo, de autoria da fotógrafa berlinense Sibylle Bergemann.

Os mesmos olhares cruzados permeiam também os textos que integram o projeto: o de Fernando Bonassi, no qual ele registra "afinidades" entre o bairro berlinense Mitte e o bairro paulistano Brás, e o do escritor alemão Carsten Probst, com suas impressões de São Paulo.

A exposição, com curadoria de Diógenes de Moura e Bruno Fischli, foi apresentada de julho a setembro de 2003 na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Dos lotações rodrigueanos...

"Se tu quiseres...
desço contigo."

Da Felicidade...

brilha
tranquila
depois leve
oscila

Das películas...

Madame...

"Não terás outros deuses diante de mim".

(Êxodo, capítulo 20)

Das lembranças...

A rua que não fala mais.
As paredes brancas do velho sobrado.
A porta aberta como costumava ficar em dias de muito calor.
Vontade de caminhar por lá e procurar pelo perdido.
Dor. Inquietante calmaria.
Agosto está chegando e o filme Ray é lindo.

1ª Mostra de Filmes Hip Hop

O frio já passou.
Augusta repleta de rappers e simpatizantes do assunto.
The Beat, The Funk Hunt, The Bliss, The Clinic e o necessário STYLE WARS de 1983.

Do frio em preto e branco...

Chuva e frio.
Cama e fim das férias.
Davis e Crawford para relembrar.
Too late . . . too late . . . too late to call for help.

Do Hip Hop

Inverno em São Paulo.
B-Boys enfrentam-se.
Rap, grafite e break.
Yo!

Das famílias...

Sentados alí, no sol de inverno, no sol de aniversário. Personas de sua trajetória particular. Parabéns e paciência. Coração cicatrizado. Fraco. Duas vezes bombardeado.

Coração que já não bomba mais.

Coração.

Das escolhas...

Dos riscos na vida. A morte é certa. As chances poucas.
E o mar...

Sobre palavras... (Vida de Marionetes - Bergman)

"A gente precisa se despedaçar de vez em quando.

Já aconteceu muitas vezes na minha vida.

Eu não sei se fico especialmente desolado com os meus colapsos... não creio.

A maioria das vezes foi amor. (...) como castigo,

você tem o seu orgasmo com o nariz metido tão fundo na merda que quase se sufoca."

Das fragrâncias...

Sinto falta de alguns cheiros e corpos, alguns sorrisos e excrementos...

"(...) Leve cheiro de bicho limpo, bicho lavado,

mas indisfarçavelmente bicho atrás do sabonete..."

(Caio Fernando Abreu)

Do passado... Fim do século 20

Passo pelo meu passado e sinto uma espécie de vertigem somada a uma inexplicável dor no peito. É uma tarde de domingo como foram tantas outras naquele bairro.

Um fim de tarde que servia de cenário para muitos momentos ali vividos.

Esse pôr-do-sol, esse cheiro de "aqui teve feira"...

Nossos corpos adolescentes, sem perspectivas, jogados na calçada.

Uma balada ou um encontro que sempre acontecia ou a solidão em um quarto de um sobrado antigo que quase foi meu.

Hoje rua deserta, nossos gritos e esperanças se foram...

Meio chorando, termino.

Das mães...

Mulher, ou qualquer fêmea, que deu à luz ou criou um ou mais filhos;

madre, causa, fonte, origem, mulher carinhosa e desvelada,

muito grande, forte, intensa...

Parabéns!

Sorrisos...

E então descubro de Quintana:

"Da vez primeira em que me assassinaram

perdi um jeito de sorrir que eu tinha".

Sobre o Vermelho... (...come into these arms again... - Lennox)

Olhando o coração vermelho, sobre o livro do Arnaldo Antunes que fica sobre o video cassete que fica sobre a televisão no móvel preto do meu pequeno quarto, concluo: eu sou sentimental e adoro Drácula de Bram Stoker.

Do beijo... (And everything I touch turns to stone - Radiohead)

Fato consumado, o amor acontece apenas uma vez, ou no máximo duas.

E os beijos podem ser eufóricos e sexuais ou puramente beijos de/com amor.

Lembrar daquela segunda (ou terceira? vou pela ordem da concretização) paixãozinha que arrancou com fúria a fúria do beijo que eu acreditava ser só aquele e me beijou com calma,

me rasgou a boca com a língua lenta e molhada de adolescência.

Angelical licença poética...

"Quando aqui apareci, um anjo bobo, desses de nariz vermelo e rosto pintado,

asa quebrada e ego inflado, que ficam sobre lonas de circo e sob poltronas de teatro disse:

Vai Paulo, ser ator na vida".

Intimidade nos banheiros...

Nas tuas mãos

"Éramos mansos porque tínhamos memória(...).

Viver era lembrar continuamente, até à náusea(...).

Com a aproximação do novo século,

a vertigem de esquecer mascara-se de vertigem de lembrar."

(Inês Pedrosa)

O Dragão (Jorge Luis Borges)

O dragão possui a capacidade de assumir muitas formas, mas estas são inescrutáveis. Em geral o imaginam com cabeça de cavalo, cauda de serpente, grandes asas laterais e quatro garras, cada uma dotada de quatro unhas. Fala-se também de suas nove semelhanças: seus cornos se parecem aos de um cervo, sua cabeça à do camelo, seus olhos aos de um demônio, seu pescoço ao da serpente, seu ventre ao de um molusco, suas escamas às de um peixe, suas garras às da águia, as plantas de seus pés às do tigre e suas orelhas às do boi. Há espécimes aos quais faltam orelhas e que ouvem chifres. É comum representá-lo com uma perola, que pende de seu pescoço e é emblema do sol. Nessa pérola está seu poder. É inofensivo se despojado dela.

Frio...

Mário de Sá Carneiro em suas vulcânicas reflexões, bastou-se ao dizer:
"Esquecer, é nunca ter sido".

Sensações

Palavras.
Borges, Cortázar, sopros, sussurros, odores, dores...