quarta-feira, dezembro 14, 2005

Das três personagens... (Para Juliana)



O mais velho.
“Havia um cheiro de cigarro e bebida e gozo entranhado(...)”.
O do meio.
“Apesar de,
sem efusões,
terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto”.

E o mais novo.
“Mas a cara dele não enganava ninguém”.
O mais velho esperou pelo o do meio.
Aconteceu.
“(...) e uma boca molhada,
uma boca funda feito poço,
uma língua ágil (...)”.

O mais novo fisgou o mais velho de imediato.
“(...) vezenquando saio nu na janela com uma coisa que não entendo direito acontecendo pelas veias (...)”.
Antes, beijou o do meio, ou depois?
Não, o mais velho beijou o mais novo.
“Que foi que aconteceu,
que foi meu deus que aconteceu,
eu pensava depois acendendo um cigarro no outro e não queria lembrar,
mas não me saía da cabeça (...)”.

Depois o do meio beijou o mais novo.
“Eram bonitos juntos,
diziam as moças,
um doce de olhar”.

O mais velho beijou o mais novo primeiro.
“Ele ficou ali na minha frente,
me olhando”.

Só depois beijou o do meio.
“Estou te enchendo? Fala. Eu sei que estou”.
O mais novo beijou os dois.
O do meio beijou os dois.
O mais velho beijou os dois.
Os três se beijaram.
“Como se houvesse,
entre aqueles três*,
uma estranha e secreta harmonia”.

Foi um beijo só.
Beijo de ficção.
Melhor assim.
“(...) de uma forma ou de outra,
fatalmente acabaria assim”.

Beijo como esse só nos livros.
Nos bons.

* “aqueles dois” do Caio, viraram “aqueles três”.

Paulo Duek & Caio Fernando Abreu (aqueles dois)